sábado, 12 de setembro de 2015

Fidelidade Doutrinária

FIDELIDADE DOUTRINÁRIA
                                                                                                                                 

         Há pessoas que estão sempre a buscar atalhos, soluções prontas, para agirem sem o esforço da análise, do exame cuidadoso, conforme recomenda o Apóstolo Paulo: “Examinai tudo; retende o bem.” (I Ts, 5: 21). Essas pessoas, por certo, ainda não entenderam a inspirada assertiva do Codificador, ao grafar na folha de rosto do primeiro livro eminentemente religioso da Doutrina, O Evangelho segundo o Espiritismo: “Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.” O esforço para a construção dessa fé inabalável é penoso para aqueles que desejam receber tudo pronto. Os que assim se posicionam têm muitas dúvidas no terreno da fidelidade doutrinária. Seria do seu agrado o estabelecimento de um index para orientar o que deveriam ler, de um manual de procedimentos para as atividades desenvolvidas nos centros espíritas e, também, de uma cartilha de orientação para o seu próprio procedimento em sociedade.
         Em relação à fidelidade doutrinária, há posições as mais variadas assumidas pelas pessoas. Há aquelas que desejariam houvesse uma lista de obras “condenadas”, o que lhes facilitaria a escolha para a leitura de informações seguras, sem terem que “esquentar a cabeça”. No outro extremo, outras há que reagem negativamente a qualquer tipo de avaliação ou de juízo formulado sobre uma publicação, tachando tal ato como estabelecimento de um index.
        Nesse contexto, deve ser lembrado que uma das características marcantes do Espiritismo é exatamente a liberdade que confere aos seus profitentes. Liberdade aprendida com Jesus, que nunca constrangeu ninguém a fazer ou deixar de fazer algo, simplesmente porque lhe fora ordenado. O Mestre sempre buscava levar o ouvinte a entender os seus ensinamentos, raciocinando sobre eles, o que obtinha através dos diálogos que estabelecia.
        Muitas passagens discutíveis do Novo Testamento, muitas palavras e frases atribuídas a Jesus, lá estão porque o Alto o permitiu. Apesar de muitos cortes, acréscimos e adaptações, o essencial foi conservado intacto. O que se tornou objeto de discussão serve para aprendermos a raciocinar em termos de fé e exercitarmos o bom-senso. Se Jesus tivesse vindo para trazer-nos fórmulas acabadas de salvação – tão a gosto dos simplistas – não teria sido carpinteiro, mas sim canteiro, pois trabalhando com pedras teria oportunidade de deixar seus ensinamentos insculpidos em lajes, como verdadeiras “receitas” de salvação, a serem seguidas ipsis verbis pelos séculos afora. Esse desejo do Mestre, de conduzir seus discípulos ao estudo e à reflexão, fica muito claro quando recomenda: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (Jo, 8: 32).
        Dentro dessa perspectiva, como encontrar o ponto de equilíbrio entre os que querem um index e um manual de procedimentos, e aqueles que advogam liberdade ampla, total e irrestrita? Avaliar se uma obra ou uma prática está em consonância com os princípios doutrinários é tarefa para quem conhece realmente a Doutrina. Daí, a necessidade do estudo, da reflexão, da análise serena e desapaixonada, a fim de que se chegue à conclusão do que está de acordo e do que está em confronto com as verdades que o Espiritismo esposa.
        A preservação da fidelidade doutrinária no que diz respeito às práticas desenvolvidas numa entidade espírita é mais fácil, pois ninguém usaria velas, bebidas, fumaça, roupas especiais, imagens, rituais, etc. Entretanto, quando se trata do uso da palavra, seja oralmente, seja por escrito, a tarefa de verificação se torna mais difícil. Mais difícil porque esbarra, quase sempre, no personalismo camuflado numa capa de inovação, renovação, atualização, etc.
        A mediunidade tem sido veículo para a divulgação de muitas “novidades” que deveriam ter merecido acurado exame antes de se terem transformado em folhetos e, principalmente, em livros. Infelizmente, o encantamento provocado pelo fenômeno ainda oblitera a visão de muitos, conduzindo-os a entendimentos equivocados.
        Se houvesse mais estudo da Codificação, por certo o número de obras anti-doutrinárias existentes, tanto pela ação de médiuns quanto de leitores seria bem menor, para não dizermos nulo. Temos o exemplo maior em Kardec, que se conservou sereno e judicioso, embora a imensa emoção que deve ter sentido ao comprovar a imortalidade da alma, ao “descobrir” o Mundo Espiritual, e ao verificar o relacionamento efetivo entre encarnados e desencarnados.  É oportuno seja lembrada a sempre atual advertência de Erasto, que Kardec inseriu em O Livro dos Médiuns: “Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea.” (item 230).
            A necessidade do uso do bom-senso no campo da mediunidade é evidenciada desde os tempos apostólicos, conforme se aprende com o Apóstolo Paulo – seguramente a maior autoridade em assuntos mediúnicos no Cristianismo nascente – que recomenda: “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.” (I Co, 14: 29). O mesmo cuidado é recomendado por João: “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus; porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo”. (I Jo, 4: 1).
         Essas recomendações continuam atualíssimas, diante do momento que vivemos, pois atravessamos um período que nos requer muita atenção relativamente à fidelidade doutrinária, principalmente no campo mediúnico voltado à produção de livros. Note-se que o vocábulo produção é intencionalmente usado aqui para substituir publicação, pela verdadeira avalancha de obras mediúnicas que invadem as prateleiras das livrarias.
            Há uma ânsia desenfreada de se publicar tudo o que médiuns invigilantes produzem, sequiosos de verem seus nomes em capas de livros. Há editoras que descobriram um verdadeiro filão de ouro no meio espírita. Muitos dos que adquirem livros pensando estarem ajudando instituições de amparo a necessitados não são informados do que resta no final, depois de deduzidas as despesas e os ganhos das editoras...          
             Os adversários do Espiritismo de há muito desistiram de combatê-lo através de ataques exteriores. Agora, eles se imiscuem no nosso meio, onde quase imperceptivelmente, valendo-se da invigilância de expositores e de médiuns, buscam lançar o descrédito através de mensagens fantasiosas, quando não ridículas. Por isso, no quadro atual, mais que nunca, deve ser posta em prática a lapidar recomendação de Jesus: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação (...)” (Mt, 26: 41).                                                                        
            Diante do exposto, fica claro que não se pode nem estabelecer um manual de procedimentos, nem elaborar um index, objetivando a preservação da fidelidade doutrinária. Mas, então, como proceder diante dessa quantidade imensa de obras inovadoras e de posicionamentos inusitados, cujas “revelações” e “modernizações” vão desde o simplesmente discutível ao claramente anti-doutrinário?            
             Em atitudes discretas, equilibradas, ao amparo da oração sincera, cada espírita consciente deve constituir-se em guardião fiel dos princípios doutrinários, o que será conseguido através do estudo, da reflexão, do uso do bom-senso.
                       

                                                                                     
                                                                                             José Passini
                                                                                             Juiz de Fora                
                                                                               jose.passini@gmail.com
José Passini (foto) é natural de Nova Itapirema, interior de São Paulo, mas reside há muito tempo na cidade mineira de Juiz de Fora. 

Espírita desde a infância, Passini considera a Doutrina codificada por Kardec como uma bússola em sua vida, assim como ele mesmo diz. Segundo ele, o Espiritismo pode ser comparado a um farol que ilumina seus caminhos. “Ele me faz assumir, cada vez mais, a minha condição de espírito imortal, temporariamente encarnado, isto é, conscientizando-me da minha cidadania espiritual.
Esperantista conhecido internacionalmente, Passini foi reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora.
Formação: Licenciatura em Letras, Mestrado em Língua Portuguesa e Doutorado em Lingüística

“A Doutrina Espírita é a bússola que me orienta no estabelecimento da rota da minha vida".

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

A Doutrina Espírita no cotidiano das pessoas

Como vê a importância da Doutrina Espírita no cotidiano das pessoas
Suely Caldas?
A Doutrina Espírita muda totalmente a perspectiva da vida das pessoas, pois tem como princípios básicos a crença em Deus, em Jesus, a imortalidade da alma, a vida no mundo espiritual, a comunicabilidade dos espíritos, a reencarnação, a pluralidade dos mundos habitados, isto é, as infinitas moradas da Casa do Pai. Essa certeza impulsiona as criaturas à busca de uma vida melhor, onde prevaleçam o amor ao próximo, a solidariedade, a ética e a justiça. A reencarnação, por exemplo, extingue o preconceito de raça, pois cada ser humano, em vidas anteriores, pertenceu às mais diversas etnias, essa conscientização transforma a humanidade numa grande família universal.  

domingo, 30 de agosto de 2015

A caridade na visão espírita

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine".
"E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse caridade, nada seria."
" E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse caridade, nada disso me aproveitaria".
"A caridade é sofredora, é benigna; a caridade não é invejosa; não trata com leviandade; não se ensoberbece".
"Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal. Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade".
"Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta".
"Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade. Mas a maior destas é a caridade" ( Paulo, I Coríntios, cap. XIII, vers. 1 ao 13).

"Todos os deveres do homem se encontram resumidos na máxima: Fora da caridade não há salvação" (Allan Kardec, Evang. S. Esp., cap.XV, item 5).
"Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral, e pelos esforços que faz para domar suas más inclinações". (Allan Kardec, E.S.E., XVII, 4).
Acima, colocamos um exemplo de como a palestra pode ser apresentada em uma lousa. A seguir, os comentários que podem ser feitos a cada item em destaque.

A Caridade Segundo o Apóstolo Paulo

O que é a caridade? Comece a palestra questionando isso. Seria darmos esmolas, levarmos comida aos necessitados, comprarmos uma rifa beneficente? Fazer isso nos daria a consciência tranquila do dever cumprido como cristãos? Este tipo de comentário fará o ouvinte refletir sobre seu posicionamento frente à vida. Ele estará mais apto a absorver os ensinos que lhe serão ministrados.
Paulo, nesta passagem, mostra aos cristãos de Corinto que a caridade é algo muito mais profundo e importante do que apenas darmos o que nos sobra aos carentes. Embora isto também seja um ato caritativo, não resume a grandiosidade desta virtude.
Procure, após a introdução, ler por completa a mensagem do apóstolo. Depois, comente seus trechos, de forma a relacionar cada frase com o que faria parte da verdadeira caridade.
"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine".
Este trecho é um alerta a todos os que são oradores, sejam espíritas, católicos, evangélicos, umbandistas, ou qualquer pregador que fale dos ensinos divinos. De nada adianta ser belo na palavra e pobre de ações. O exemplo de mudança íntima, de luta constante contra as imperfeições, deve fazer parte da vida dos que se dedicam a divulgar a mensagem cristã. Conheceremos se a árvore é boa pelos frutos, alertou Jesus. Caso contrário, a palavra será como o sino que tine, ou seja, fará muito barulho e chamará a atenção, mas não modificará os corações e inteligências a que é direcionada.
"E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse caridade, nada seria."
Ter conhecimento espiritual não faz do ser um indivíduo caridoso. É Jesus mesmo que se diz agradecido a Deus, por haver escondido os mistérios divinos dos sábios e os revelado aos simples (Mateus, cap. XI), referindo-se ao sentimento e à fé nos ensinamentos espirituais. A mediunidade e o entendimento das Leis do universo dão sim ao ser maior responsabilidade frente à vida, e de posse disso devem seus detentores modificar suas condutas e buscar a humildade.A fé também não é sinônimo de caridade, pois sem obras é morta, segundo o apóstolo Tiago, em sua Epístola, cap. II, vers. 17. Com a afirmativa de que por mais fé que tivermos em Deus e em nossas próprias forças nada seremos se não tivermos a caridade, Paulo chama a atenção dos religiosos em geral. Muitos de nós acreditamos que a crença inabalável é porta aberta para ajuda do Alto. Porém, se não nos ajudarmos, praticando aquilo em que cremos através do bom exemplo, qual a vantagem de possuir fé?
" E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse caridade, nada disso me aproveitaria".
Dar esmolas e acabar com a necessidade material do próximo é muito importante. Mas preciso é alertar às pessoas que tudo depende da intenção. Se fizermos a doação material com o objetivo de aparecermos aos outros, ou então para aliviarmos nossa consciência, estaremos nos enganando. Além disso, corremos o risco de ajudar ao necessitado, mas humilhá-lo ao mesmo tempo, com um ar de superioridade que o ferirá. A doação desinteressada deve brotar da compreensão da Lei de Deus, tornando-nos irmãos de quem ajudamos e tendo como único fim o amparo e alívio do sofredor.
Ainda neste trecho, Paulo instrui de que nada adianta nos auto-flagelarmos, com o intuito de mostrarmos para quem nos vê que somos crentes em Deus. Mais importante que castigar o corpo, com privações e sofrimentos, é sufocar as más tendências, verdadeiras mães de nossas desgraças.
"A caridade é sofredora, é benigna; a caridade não é invejosa; não trata com leviandade; não se ensoberbece".
O apóstolo mostra que a verdadeira caridade traz a resignação, que é o entendimento das dificuldades da vida como obstáculos a serem vencidos, objetivando o progresso espiritual. Alia a bondade para com todos, independente do momento, pois a vingança e o ódio corroem o sentimento e turbam os sentidos racionais, enquanto o perdão enobrece o ser. Diz ainda que a prudência deve fazer parte de quem busca a caridade, pois ser leviano traz conseqüências inesperadas, e o orgulho do homem pode contribuir para o afastamento de Deus.
"Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal. Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade".
Em um mundo onde o que mais vale é a satisfação pessoal, mesmo em detrimento da paz alheia, a caridade busca decência e fraternidade. O público precisa ser levado a refletir sobre de que adianta levarmos vantagem em tudo se alguém estiver sofrendo com isso? Com certeza, esta dor do próximo será revertida em desespero, rancor, violência, que mais cedo ou mais tarde, acabará voltando-se contra nós mesmos, nossos filhos ou amigos.
Irritar-se é a melhor forma de perdermos a razão, por isso a paciência e a sensatez fazem parte da caridade, levando o homem a pensar antes de agir. Assim, devemos lembrar ao assistente que a justiça irá se fazer mais presente em nossa sociedade, libertando os seres das mentiras e intrigas que envolvem interesses pessoais. É a verdade prevalecendo, e só ela pode nos libertar da ignorância, disse Jesus.
"Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta".
Tudo tem sua hora. Saber esperar é próprio da caridade. Quando o ser amplia sua visão além da vida material, vê no horizonte a luz necessária para manter-se animado e vivo. Busca na sabedoria cristã o esclarecimento para suas dúvidas, deixando de lado o desespero. É o caminho do equilíbrio proporcionado pela caridade.
"Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade. Mas a maior destas é a caridade" ( Paulo, I Coríntios, cap. XIII, vers. 1 ao 13).
Mudança íntima, humildade, obras, exemplo, doação desinteressada, resignação, bondade, perdão, prudência, decência, razão, tranqüilidade, sabedoria, justiça, amor ao próximo como a si mesmo. Agora é o momento de mostrar ao assistente o que verdadeiramente Paulo diz sobre o que é a caridade: um conjunto de atributos morais e intelectuais, que fará do Espírito ser dono de seu próprio destino.
A fé e a esperança, indispensáveis para uma existência sensata e confiante, são assessoras da caridade, que será o sentimento principal a ser buscado pelo homem de bem, libertando de seu egoísmo e encaminhando-o para o Reino de Deus.
"Todos os deveres do homem se encontram resumidos na máxima: Fora da caridade não há salvação (Allan Kardec, Evang. S. Esp., cap.XV, item 5).
Após a passagem de Paulo, o palestrante leva o ouvinte à citação de Kardec. Diferente de outras religiões que colocam como essencial para a salvação (entenda-se liberdade com conhecimento) a freqüência exclusiva em suas fileiras, a Doutrina Espírita mostra que o que interessa é a prática da caridade, seja ela feita em que religião for. Jesus nunca disse que esta ou aquela doutrina deveria ser seguida. Mas sim, resumiu a Lei e os profetas em: Amar a Deus sobre tudo e ao próximo como a si mesmo. Este é o lema do Espiritismo:
"Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral, e pelos esforços que faz para domar suas más inclinações". (Allan Kardec, E.S.E., XVII, 4).
Para encerrar, mostre ao público que nem Paulo, nem Jesus e muito menos a Doutrina Espírita quer que sejamos santos. Os Espíritos superiores sabem de nossas limitações e os ensinamentos cristãos são exatamente para ajudar-nos a superá-los. O que se espera do verdadeiro espírita, ou cristão, que têm o mesmo sentido, é o esforço constante em analisar-se moralmente. E sempre que se perceber fora dos atributos que constituem a caridade, que erga a cabeça, recomece novamente o caminho, sem desesperos ou pressa, mas a passos firmes e corajosos.

Copyright by Grupo Espírita Apóstolo Paulo

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Caridade com a Doutrina dos Espíritos

Ouvir e falar!
Há uma frase que no movimento espírita tornou-se extremamente conhecida, e que qualquer um de nós, espiritistas, já ouviu alguém se referindo a ela em palestras, estudos ou outras atividades do movimento espírita, e que por isso mesmo o ouvinte imediatamente acrescenta ao seu conhecimento de Espiritismo e sai, por sua vez, a espalhá-la multiplicando velozmente seu conteúdo.
Como não gosto de passar à frente algo referente à Doutrina Espírita de que não possa apresentar a fonte de onde se origina minha informação, procurei desesperadamente encontrar a conhecida frase, que se tornou tão comum e que qualquer um, mesmo sem qualquer base doutrinária, hoje em dia se faz portador de sua mensagem passando à frente o Espiritismo, sem qualquer base em seus postulados divinamente codificados pelo digno seguidor do Mestre de Nazaré.
Só então me pude dar o direito de também acrescenta-la em minhas modestíssimas anotações doutrinárias, para então poder tornar-me um divulgador de seu conteúdo, não como sempre ouvi e li, nos diversos meios de comunicação com que tive contato, bem como em palestras, seminários, livros, revistas, programas de rádios etc., mas, sim, como em verdade ela nos foi transmitida por seu criador, o querido benfeitor Emmanuel.
A frase a que me refiro é esta: a maior caridade que podemos fazer pela Doutrina Espírita é a sua própria divulgação”. Ora, quem procurar essa frase nos livros de Espiritismo ditados por Emmanuel a Chico Xavier, não será bem sucedido em sua busca, pois a tal frase, tão corriqueira no movimento espírita, não está escrita dessa forma nem foi pronunciada pelo citado benfeitor dessa maneira.
A referida citação está contida no livro “Estude e Viva”, ditado pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz, psicografado por Chico Xavier e Waldo Vieira, e consta do capítulo 40 da referida obra, intitulado Socorro Oportuno, o que nos mostra como as coisas são alteradas ou modificadas voluntária ou involuntariamente, quando passadas de um para outro interlocutor; senão vejamos como está no livro: “(...) Lembra-te deles, os quase loucos de sofrimento, e trabalha para que a Doutrina Espírita lhes estenda socorro oportuno. Para isso, estudemos Allan Kardec, ao clarão da mensagem de Jesus Cristo, e, seja no exemplo ou na atitude, na ação ou na palavra, recordemos que o Espiritismo nos solicita uma espécie permanente de caridade – a caridade da sua própria divulgação”. (1)  
Em momento algum identifiquei no conteúdo do parágrafo acima que a divulgação do Espiritismo seja a maior caridade que podemos fazer pela doutrina espírita. Penso que a observância e vivência correta dos seus postulados ainda é a grande finalidade da doutrina espírita ao seu sincero seguidor, pois, da forma como ela vem sendo difundida por grande parcela de “espíritas” que não conhecem seus postulados, não é verdadeiramente nenhuma forma positiva de caridade para com ela, e sim um enorme desserviço prestado contra sua digna e elevada mensagem. Isto porque o Espiritismo nos solicita que estudemos a codificação, que é a mensagem do Consolador Prometido por Jesus, tão bem elaborada pelo fiel Discípulo do Mestre de Nazaré, para a vivência da mensagem cristã, contida no evangelho ensinada e exemplificada por Jesus, para só então, sem que seja preciso fazer qualquer alarde, a espalhemos em forma de atitude, na ação da caridade em favor do nosso semelhante, testemunhando com nosso próprio trabalho na plantação da semente do bem para que possa germinar, crescer e dar bons frutos.
A referência de Emmanuel ao estudo das obras de Kardec não é citada, mesmo fazendo parte do mesmo pensamento no assunto enfocado, e que por essa razão não pode ser desprezado ou esquecido como se não tivesse sido pronunciado. É por essa razão que a divulgação da doutrina espírita segue sendo difundida sem qualquer cuidado com a fidelidade doutrinária, que todo e qualquer espírita consciente deve ter como meta primordial; essa é a razão de hoje em dia se aceitar verdadeiros absurdos como sendo obra espírita, quando não passam de ridículas obras mediúnicas, e o pior, são aceitas até mesmo por grande número de “espíritas” que, sem conhecerem os fundamentos da doutrina que dizem professar, mas que não professam verdadeiramente, a elas se referem com entusiasmo, como se estivessem falando do conteúdo da mensagem espírita codificada pelos Nobres Imortais sob a supervisão do próprio Jesus.
Precisamos tomar cuidado com as frases corriqueiras, e prestarmos mais atenção ao conteúdo do que à forma, para que o mais importante das mensagens que nos cheguem ao conhecimento não seja simplesmente aceito sem uma análise mais apurada em todo o seu conjunto, e, sim, que seja devidamente apreciado e absorvido pelo crente sincero da doutrina espírita, e, se for portador de um bom conteúdo, aí então dele se utilizará para sua correta divulgação.
O espírita sincero deve ter por lema: “fora da caridade não há salvação”,(2)  mas deve observar que essa máxima precisa ser devidamente compreendida para não ser interpretada ao bel prazer de quem quer que se ache tão absolutamente dono da verdade, pois a caridade não dispensa o cuidado que todos devemos ter em observar que “fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão em todas as épocas da humanidade”, (3) e que por isso mesmo, não podemos nos deixar descuidar da razão e o bom senso.
A principal caridade que podemos fazer é a nós mesmos, em primeiro lugar, estudar a mensagem cristã contida no evangelho, como nos alerta Emmanuel, seguindo Jesus através de Kardec, e efetuarmos nossa transformação moral-espiritual, para que, fundamentados no cristianismo redivivo que o Consolador nos veio trazer, possamos dar testemunhos como nos alerta o benfeitor: “seja no exemplo ou na atitude, na ação ou na palavra”, de que seguimos Jesus, como fiéis discípulos respeitáveis divulgadores da sua sublime mensagem, sem achismos ou modismos condenáveis sob todos os aspectos.
Em O Evangelho segundo o Espiritismo encontramos a bela mensagem que o Espírito de Verdade nos transmitiu e que transcrevemos a seguir: “Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo.No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram”. (...) (4)
Precisamos entender que o Cristianismo contém todas as orientações de que necessitamos para fazer crescer em nós os valores morais que dormitam em nosso íntimo, desde nossa criação, e que só o estudo sério, constante e disciplinado da doutrina espírita dar-nos-á a necessária capacidade para melhor compreender as atitudes infelizes e os defeitos do nosso próximo, ampliando nosso poder de discernir melhor para melhor agir, utilizando-nos dos recursos hauridos nos conhecimentos adquiridos nesses estudos, para vivenciar em nosso dia-a-dia as lições com que os Espíritos Superiores nos instruíram sobre a verdadeira caridade como a entendia Jesus: “Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias e perdão das ofensas(5)
É hora de tomar uma atitude de serenidade e seriedade em tudo o que pretendemos falar com relação à doutrina espírita, não mais agindo como simples repetidores do que ouvimos alguém dizer, e, sim, procurarmos falar com responsabilidade apenas do que realmente conhecermos com segurança e que esteja contido nos postulados da codificação do Espiritismo.
Fontes:
1. Estude e Viva – FEB 9ª edição, cap. 40, pelos espíritos Emmanuel/André Luiz, médiuns: Chico Xavier/Waldo Vieira.
2. O Evangelho segundo o Espiritismo, FEB 106ª edição, Cap. XV, item 10. 
3. O Evangelho segundo o Espiritismo, FEB 106ª edição, frontispício. 
4. O Evangelho segundo o Espiritismo, FEB 106ª edição, Cap. VI, item 5.
5. O Livro dos Espíritos, FEB, 76ª edição, pergunta 886.   
 

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Momento para orar

Querido irmão, querida irmã,
Por alguns minutos respire pausadamente, excluindo da mente toda e qualquer preocupação, e mentalize Jesus...
Retire só um pouco a atenção das dúvidas, dos temores, das aflições, das dores, das dificuldades e dos impedimentos, da falta de saúde, da falta de recursos, das incompreensões, do desamor e das hostilidades e, adoçando o coração, sinta a sua amorosa presença ao seu lado ou ao lado de quem desejas ver beneficiado.
Sentindo-O, nada peça pois Jesus sabe do que precisas... Apenas entregue-se à sua Divina proteção e ore:
 
"Pai Nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome!
Venha a nós o vosso reino e seja feita a vossa vontade,
assim na Terra como no céu.
O pão nosso de cada dia dai-nos hoje e perdoai as nossas dívidas
assim como perdoamos os nossos devedores,
e não nos deixeis cair em tentação mas livrai-nos do mal,
porque teus são o Reino, o Poder
e a Glória para sempre!"
Assim seja!

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Aprendendo com as árvores

 Aprendendo com as árvores
 
O poeta Olavo Bilac, em poucos versos, nos convida a olharmos as árvores, as velhas árvores, tanto mais belas quanto mais antigas, vencedoras da idade e das procelas.
As árvores têm muito a nos ensinar. Uma das suas grandes lições é sua capacidade de adaptação.
Elas tanto crescem num cantinho do quintal, a partir de um caroço que foi jogado a esmo quanto, inconformadas, destroem a calçada de concreto com a força das suas raízes.
Na juventude, se dobram, ao sabor dos ventos fortes, vergam como em um grande exercício de flexibilidade. Depois, passada a tormenta, ei-las de tronco ereto.
E, com o passar dos anos, vão se deixando enrijecer, alargando aqui, rompendo outros galhos logo acima, enriquecendo a cabeleira frondosa e amiga.
Copa de sombra. Ninho de tantos pequenos alados. Alegria da criançada que adora se aninhar aqui e ali, para observar a paisagem de melhor ângulo.
Ou amarrar cordas para um balanço. Ou montar uma casa ali mesmo, nas alturas.
Ou, simplesmente, subir até onde possa para saborear os frutos, diretamente da generosa fonte.
Caprichosas, as árvores se enchem de flores, explodindo em cores. E, para que todas possam ter seu momento especial de desfile, elas se revezam no calendário.
As quaresmeiras roxas em março, os ipês rosa em julho, os jacarandás mimosos, com sua chuva lilás, em novembro.
Ainda se permitem servir de palco e auditório para a passarinhada que, mesmo nas grandes cidades, canta acima de todos os decibéis dos carros do trânsito alucinado.
Velhas árvores amigas, veem as gerações se sucederem. Observam a criança crescer, amadurecer. Acompanham-lhes os filhos que, também, delas irão se servir.
Servir da sombra, dos frutos, das flores.
Envelhecem com dignidade, não se esquecendo de romper em flores, em frutos, em atapetar o chão com maestria, em derrubar alguns dos frutos maduros para adubar o chão.
Velhas árvores amigas...
Não temem ver seus galhos se retorcerem e seu tronco ficar enrugado. A cada ano, encontram forças e ofertam o melhor de si: as frutas mais doces, mais coloridas, que se tornam as mais cobiçadas.
Como se fossem se aprimorando, no transcorrer dos anos, esmeram-se na produção: frutos mais graúdos e mais saborosos.
Velhas árvores. Tão sábias. Quando chega o outono, trocam a roupagem, aproveitando as cores estonteantes e absurdas da estação. E se fazem mais admiradas.
E quando o enregelante inverno chega, consumindo-lhes a folhagem, ficam ali, recolhem-se para dentro de si mesmas.
Hibernam. E basta um leve toque de sol, um aceno suave da primavera, para se espreguiçarem, alongarem os galhos e despertarem em botões.
Sem reclamações da invernia, do rigor dos ventos, das tempestades enfrentadas.
Tudo serviu para mais fortalecê-las.
E prosseguem, servindo, nenhuma desejando ser como a outra. As amoreiras dão amoras, as jabuticabeiras penduram seus frutos no tronco, as uvas formam cachos caprichosos.
Nem inveja, nem imitação, nem orgulho. Apenas cumprimento do dever. Alegria de servir.
Aprendamos com as árvores. Despojemo-nos do orgulho e do egoísmo. Sirvamos sorrindo, reclamemos menos e produzamos mais, com o que temos, onde estamos.
 
Redação do Momento Espírita, inspirado no texto Minha árvoremeu amor, de Roberta Faria, da revista Sorria, de abril/maio 2015 e versos da poesia Velhas árvores, de Olavo Bilac.
Em 6.7.2015.
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