Palestra realizada na Casa Espírita de
Lagoa Dourada
por Flora
Dias antes da prisão de Jesus Cristo, os discípulos e um grupo de
pessoas conversavam entre si sobre a fé, estando também o Mestre por perto.
Levi achava que somente o homem culto conhecia a extensão dos benefícios da fé;
Tiago acreditava que bastava a vontade para que a confiança em Deus se
estabelecesse; um dos filhos de Zebedeu perguntou se a fé era apenas para
aqueles que a desejam? Saindo de seu devaneio Jesus respondeu:
- A fé pertence, sobretudo, aos que trabalham e confiam. Tê- la no coração
é estar sempre pronto para Deus. Não importam a saúde ou a enfermidade do
corpo, não tem significação os infortúnios ou os sucessos da vida material. A
alma fiel trabalha confiante nos desígnios do Pai.
Levi, perguntou como discernir a vontade de Deus, naquilo que nos
acontece. Jesus disse-lhe:
A vontade de Deus, além do que conhecemos através de sua lei, é a que
também se manifesta, a cada instante da vida, misturando a alegria com as
amarguras, concedendo a doçura ou retirando-a para que a criatura possa colher
a experiência luminosa no caminho espinhoso. Ter fé, portanto, é ser fiel a
essa vontade, em todas as circunstâncias, executando o bem que ela nos
determina e seguindo-lhe o roteiro sagrado, nas menores sinuosidades da estrada
que nos compete percorrer.
Tomé acrescentou que a fé seria atributo do espírito mais cultivado,
porque o homem ignorante não poderá ter semelhante virtude. Jesus esclareceu:
- Todo homem de fé será, agora ou mais tarde, o irmão dileto da
sabedoria e do sentimento.
A fé, conquista da alma não é comum apenas as criaturas de pouco
conhecimento ou de posição vulgar, é bem possível QUE A ENCONTREMOS NO PEITO
EXAUSTO DOS MAIS INFELIZES OU DESCLASSIFICADOS DO MUNDO.
Essa conversa foi revivida mentalmente por Tomé, quando este
presenciou a crucificação de Jesus. Tomé não tinha a compreensão do motivo
daquele homem estar vivendo toda aquela situação. Ele que ensinou, curou, amou,
Filho do Deus! Desejou encontrar alguns companheiros pra trocar idéias, não viu
um só deles. Procurou pelos beneficiados por Jesus, a ninguém reconheceu.
Enquanto as lanças brilhavam fixou os dois malfeitores que a justiça
do mundo havia condenado. Aproximando–se mais da cruz viu que Jesus os olhava
com terno olhar. Tomé se sentiu emocionado.
Quem seriam aqueles ladrões para estarem recebendo o olhar carinhoso do
Cristo, naquela hora?
Dimas à direita, Gestas à esquerda do Cristo.
Gestas, ainda falava contra as autoridades locais, insultava Jesus.
Estava irado.
Dimas arrependido do que havia feito se conformava com a cruz como
conseqüência de seus crimes. Entendendo suas faltas, Dimas se mostrou humilde,
entendedor do homem que estava próximo a ele, deixou que a fé existente em si,
se mostrasse e apelou para Jesus:
- Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu Reino.
Nesse momento, Tomé reparou que Jesus lhe enviava um olhar cheio de
carinho e foi como se aos seus ouvidos lhe chegassem ecos de sua palavra
esclarecedora:
- Vês, Tomé? Quando todos os homens da lei não me compreenderam e quando
os meus próprios discípulos me abandonaram, eis que encontro a confiança leal
no peito de um ladrão!...
Tomé, ainda pensou... pensou na lição recebida até o momento em
que Jesus foi retirado da cruz. Ele
começava a compreender a essência
profunda de seus ensinos imortais.Como se seu espírito fosse transportado para
o alto do monte, pareceu-lhe observar a marcha humana: viu homens sobre livros
da lei , doutores orgulhosos com postura ereta ao caminhar, mulheres vaidosas,
viu os leprosos e doentes curados por Jesus, seguidores e discípulos que
caminhavam envergonhados....Tomé chorou e julgou sentir a seu lado a figura do
mestre que lhe colocou as mãos leves e amigas sobre a fronte atormentada,
repetindo-lhe ao coração as palavras que lhe havia endereçado na cruz:
-Vês, Tomé? Quando todos os homens da lei não me compreenderam e os
próprios discípulos me abandonaram, eis que encontro a confiança leal no peito de
um ladrão!
Esses três homens postados na cruz representam estágios evolutivos
diferenciados, portanto estágio diferenciado de compreensão das coisas da Terra
e das coisas de Deus, como também tinham dores diferentes.
O homem que está na cruz do centro, apresentando a dor de amar sem ser
amado, nem compreendido. É a dor que
abrasa no anseio de realizar um grande bem, cuja consumação está dependendo do
objeto desse bem acalentado.
Dimas tem a dor do arrependimento, a dor que regenera, converte e
salva.
A dor de Gestas era a dor da revolta, do orgulho ferido, que atribui
suas vicissitudes a causas estranhas que lhe não dizem respeito.
A dor pode ser comparada ao fogo. Ter efeitos positivos ou
destrutivos. O fogo faz o alimento se tornar comestível, aquece. O fogo
entregue a si mesmo, sem objetivo definido é o incêndio. A dor de Gestas
consome, não esclarece o espírito, não redime. A dor do Cristo ilumina consciências,
enobrece corações, desperta mentes na humanidade, a dor de Dimas é o fogo que
redime, eleva, desperta a virtude da humildade e da fé.
Joanna de Ângelis, fala que “à
luz da psicologia profunda, uma fé diminuta, um grão de mostarda que lhe
represente a dimensão, tudo consegue e nada lhe será impossível, porque se
apóia, sobretudo, na razão.”
Portanto, trabalhemos, oremos, façamos nossas
reflexões, tenhamos fé independente de nossa cultura, cor, recursos financeiros.
Bibliografia:
Vinícius. Em tono do Mestre, FEB
Xavier, Francisco
Cândido Boa Nova, FEB
Franco,
Divaldo. Jesus e o Evangelho. À luz da psicologia profunda – Alvorada
livraria/editora