Algumas
pessoas têm uma grande capacidade para dar, para oferecer a outrem presentes
variados. Capacidade de descobrir o de que o outro necessita e lhe
providenciar, com presteza.
Mas,
percebe-se, que alguns de nós temos dificuldade em receber o que nos é
ofertado. Por vezes, em determinadas circunstâncias de nossas vidas, reagimos a
certas dádivas, com quase intolerância: Detesto caridade alheia em meu
favor.
Esquecemos
de que o próprio Cristo, o único Ser perfeito que transitou pela Terra, não se
furtou a aceitar o auxílio de um tal Simão, das bandas de Cirene, na Àfrica, a
conduzir o próprio madeiro da crucificação.
Com
certeza, como em todos os atos de Sua vida, aproveitou o ensejo para ensinar a
sabedoria de receber. Ele dera tanto de Si, amor integral que era.
Mas,
naquela circunstância, exaurido pela perda de sangue após o suplício dos
açoites e a coroa de espinhos, a noite indormida, a falta de alimento e de
água, agradeceu com o olhar o auxílio do Cireneu.
E continuou
caminhando, até o local do suplício.
Igualmente,
expressou gratidão ante a dádiva de Verônica que, rompendo o cordão de
isolamento dos soldados, chega até Ele e lhe enxuga a face ensanguentada e
suarenta: deixou impressa Sua imagem no linho alvo.
Recordamos
de uma professora que foi enviada a lecionar em uma escola de periferia.
Ali,
havia falta de tudo. A sala de aula era escura, sem pintura, de aspecto quase
sombrio. As condições eram as mais adversas possíveis.
E os
alunos eram filhos de homens e mulheres sem teto, sem emprego, e tinham de si
mesmos uma imagem depreciativa.
Ela
chegou e fez a diferença. Convocou o marido, amigos, conhecidos, os próprios
pais e organizou mutirões. Conseguiu tinta e a escola ganhou cores festivas.
Plantou
flores para alegrar a entrada. E uma horta, para benefício dos alunos, que tudo
recebiam entre a surpresa e a hesitação.
Jamais
alguém os presenteara tanto. Eles estavam habituados a ter coisa nenhuma,
rumando de uma para outra banda, seguindo os passos incertos dos seus pais.
E agora,
estava ali uma professora a lhes oferecer beleza, arte, conforto, carinho em
todas as suas atitudes.
A maior
alegria foi no dia em que ela, em tendo recebido o primeiro salário, adquiriu
vários livros e os disponibilizou, montando pequena biblioteca, na sala de
aula.
Livros
didáticos, livros de histórias, livros coloridos, cheios de gravuras. Livros
que enchiam os olhos e a mente! Aquelas crianças verdadeiramente os devoraram,
folheando cada um como um tesouro inestimável.
A alegria
delas enchia o coração da professora de felicidades.
A maior
surpresa, contudo, foi quando começaram a chegar os presentes deles: uma flor
colhida na estrada, a caminho da escola; um desenho, um cartão, uma frase
rabiscada em pequeno pedaço de papel.
Era a sua
vez de receber. E o fez, de forma admirável, redobrando-se em cuidados para com
eles.
E guardou
cada um daqueles mimos, emocionada, pensando: Meu Deus, eles nada têm e
me oferecem presentes.
A
sabedoria de receber. Receber gratidão, um abraço, um aperto de mão, um
envelope com certa quantia de que tanto necessitamos, um presente inesperado.
Pensemos
nisso e recebamos com alegria o que nos ofertam amigos, conhecidos,
desconhecidos, alguém que se sentiu tocado pela nossa ação, pela nossa vida,
pela nossa dificuldade.
Redação do Momento Espírita.
Em 13.3.2014.
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